Por Alan Ricardo
Se você gosta de assistir às competições esportivas mais populares, então posso afirmar que você acompanha os jogos olímpicos, talvez já tenha sentido vontade de praticar um daqueles esportes. Quantas vezes você já foi para um parque aquático assistir a uma competição de natação? Quantas vezes você praticou salto com vara? Quantas vezes você participou de uma partida de tênis na sua escola?
Algumas modalidades esportivas ou provas específicas do atletismo não fazem parte do cotidiano das pessoas em condição de vulnerabilidade socioeconômica.
(NOGUEIRA, 2011) fala das desigualdades de oportunidades para juventude, com dados do IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais) e POLIS – Instituto de Estudos e Formação e Assessoria em Políticas Públicas, onde os jovens relatam alguns aspectos da realidade vivenciada:
“(1) os jovens demonstram não encontrar espaços de negociação e resolução de suas questões, ou canais de expressão de opiniões para a melhoria de vida; (2) denunciam as condições da escola pública evidenciando a falta de infra-estrutura, baixos salários dos professores, aulas pouco atraentes, violência em torno da escola e constante falta de professores; (3) falta de trabalho como agravante do aspecto econômico, cultural e societário; (4) alto custo das atividades artístico-culturais, falta de segurança nos espaços de lazer e a centralização de oportunidades nas áreas nobres dos grandes centros urbanos.”
O quarto aspecto aponta diretamente para questões da política institucional que direciona recursos da cultura, da arte e esporte para os vivem nas áreas mais ricas. Na cidade de Salvador contamos a Arena Aquática de Salvador localizada no bairro da Pituba (bairro nobre) e o Parque Aquático Desportivo da SUDESB que fica no centro da cidade. Pelo visto os responsáveis pela construção dos parques aquáticos não pensaram nos jovens das Cajazeiras, tão pouco nos que moram em Paripe, na hora de escolher uma localização estratégica destes centros esportivos.
Será que a escassez de atletas pretos nas provas de natação tem relação direita com o sistema de político-econômico e outros fatores do macrossistema que estamos inseridos?
Pensaremos mais um pouco sobre quem domina o poder na política institucional e quem está no topo da pirâmide socioeconômica. No gráfico (CAMPOS; MACHADO, 2017) apresenta um recorte racial da representação política.
Já no cenário socioeconômico: (“Negros são 75% entre os mais pobres; brancos, 70% entre os mais ricos - 13/11/2019 - UOL Notícias”, [s.d.])
O pódio da natação brasileira assim como outros esportes elitizados tem a mesma cara dos que dominam o poder político-econômico, ainda é possível acreditar em coincidência?
Quem está matriculado em uma escola onde tem uma piscina olímpica que pode custar até cinco milhões de reais (GLOBOESPORTE.COM, 2018), quem pratica esportes elitizados tem uma raça, e pertence a uma classe socioeconômica privilegiada predominantemente branca.
Quanto custa ser um atleta de alto rendimento?
— Imaginaremos a prova do salto com vara, fiz a busca por uma das varas mais simples para competição em um dos sites mais populares do segmento esportivo.
Essa foi a vara mais barata dentre as apropriadas para competição.
O atleta não cairá no concreto, precisamos de uma área de queda:
Sua carteira ficou zerada depois disto? Mas a lista não acaba por aí...
É necessário investir em transporte e hospedagem para as competições importantes, suplementação, e profissionais da medicina, fisioterapia, treinamento planejado por profissionais da educação física e fisiologia, somando estes custos ultrapassa facilmente os custos dos materiais. A pergunta que fica é: onde é possível praticar salto com vara no Brasil? Qual a raça de quem pratica essa prova do atletismo?
Talvez agora seja possível refletir sobre os motivos pelos quais o pódio dos 100 metros rasos, feminino é este:
E o pódio dos 100 metros livre, feminino é este:
O contraste racial é notório, mas seria extremamente superficial e simplista dizer que não temos pessoas pretas com potencial para ser medalhista nos 100 metros livre da natação olímpica. No caso do atletismo, não podemos afirmar que as pessoas brancas não têm oportunidades para praticar corridas de velocidade e conquistar medalhas olímpicas.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, L.; MACHADO, C. O que afasta pretos e pardos da representação política? Uma análise a partir das eleições legislativas de 2014. Revista de Sociologia e Política, v. 25, p. 125–142, 1 mar. 2017.
GLOBOESPORTE COM, G. COM. Manaus herda piscina olímpica usada na Rio 2016 ao custo de R$ 48 mil. Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/am/olimpiadas/noticia/2016/11/manaus-herda-piscina-olimpica-usada-na-rio-2016-ao-custo-de-r-48-mil.html>. Acesso em: 29 mar. 2022.
Negros são 75% entre os mais pobres; brancos, 70% entre os mais ricos - 13/11/2019 - UOL Notícias. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/11/13/percentual-de-negros-entre-10-mais-pobre-e-triplo-do-que-entre-mais-ricos.htm>. Acesso em: 29 mar. 2022.
NOGUEIRA, Q. W. C. Esporte, desigualdade, juventude e participação. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 33, p. 103–117, mar. 2011.
YOUTUBE, Y. Olympics - YouTube, 2021. Disponível em: <https://www.youtube.com/olympics>. Acesso em: 30 mar. 2022
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